É realmente fantástico como o povo português lida com a mudança. Penso que devia ser estudado, porque realmente deve ser um dos únicos países do mundo onde mudar é sinónimo de terror. Até podemos comparar com os Estados Unidos, nas eleições de 2009, onde Barack Obama foi nomeado presidente, o principal slogan da campanha era “Yes we can change”. Como era expectável existiu alguma resistência por parte das camadas da população mais conservadoras, mas como ficou provado na sua eleição os americanos querem mesmo mudar.
Para dar um exemplo desta adversão à diferença falo-vos de uma coisa insignificante, para realmente entenderem a dimensão da situação. No outro dia decidi mudar, numa coisa obviamente insignificante. O que eu fiz foi em vez de levar a camisa para fora das calças, decidi levar a camisa para dentro das calças. Não me ficou mal, parecia mais adulto e tudo, pensei eu. Quando chego à escola, aproximo-me dos meus colegas e todos eles, excepto os que ainda não tinham chegado, soltaram um “ah” de espanto. Todos me disseram “Mas porque é que meteste a camisa para dentro? Não percebo!”, excepto aqueles que realmente já olharam para fora do umbigo e realmente viram o mundo e felizmente não tem essa adversão à mudança. Passaram o dia inteiro a chatear-me com as mesmas perguntas irritantes, até que no final do dia um colega meu agarra em mim e diz me para tirar a camisa para for a para eu ver que ficava melhor. Eu disse-lhe que não tirava porque achava que estava melhor assim. Então não é que ele me agarra na camisa e tira-a para fora! E depois diz “Assim, sim”.
Se ignorarmos o facto de que a camisa ficaria melhor ou pior para dentro, podemos ver que esta mudança os afectou seriamente. Eu penso que a causa disto foi porque saí dos parâmetros que eles definem por “normal”, logo eles, fizeram os possíveis para me fazer voltar à “normalidade”. Nem sequer se interrogaram se realmente me ficava melhor ou não. Eu falei com as pessoas que já viram o mundo e essas disseram-me que ficava bem com a camisa para dentro. Portanto eu penso que este episódio deveu-se realmente à adversão à mudança.
Quando uma mudança acontece, deve se pensar se esta mudança é positiva ou negativa. Se for negativa realmente deve ser rectificado, mas se for positiva, penso que não há mal nenhum. O problema dos portugueses, na minha opinião, é que realmente eles não pensam e associam a mudança automaticamente a terror.
Para falar dum assunto mais importante não precisamos de ir muito longe. O acordo (actualização) ortográfico foi um dos assuntos mais discutidos nestes últimos meses. Todos os portugueses que se presem disseram exactamente o quê, que não prestava, que não fazia sentido (comparem com a situação anterior). Pois então eu, que suporto o acordo ortográfico em quase toda a sua totalidade penso que esta aversão a este acordo tem a ver efectivamente com esse tal medo da mudança. Se perguntarmos a um português o que ele acha sobre o assunto diz que não presta porque é uma perda de tempo, mas a ver verdade é que ninguém sabe o que muda ou o que deixa de mudar com este acordo. Todos dizem o que vem nas notícias e etc. e por vezes são as coisas mais ridículas possíveis. Esta mudança no me ponto de vista é boa pois simplifica a língua. As consoantes mudas desaparecem. Essa é a principal mudança. Toda a gente pensa que facto muda para fato. Pois fiquem a saber que isso é mentira. Vejam só que a adversão é tanta que os argumentos contra ela até chegam a ser inventados pelos que não tem nada a dizer contra o acordo.
Para terminar penso que esta mentalidade deve ser mudada. Vamos é esperar que esta mudança não seja como todas as outras.
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